terça-feira, 4 de março de 2008

Velhice

Ontem na estação de Osaka, enquanto eu esperava pelo trem parou uma senhora perto de mim, um pouco à minha frente, de forma que eu a via de costas. Ela usava um gorro preto, mas dava para ver os cachos grisalhos que cobriam sua nuca. Aquele gorro... tinha algo de estranho, parecia de lã mas era mais brilhante. Foi quando consegui ver a senhora de perfil que percebi o que os meus olhos não queriam acreditar - o gorro era, na verdade, uma peruca! Da pior qualidade, diga-se de passagem. A razão pela qual os cachos grisalhos estavam completamente descobertos pela tentativa de peruca não se sabe. Poderia ser a falta de cuidado da senhora, uma vaidade bem intencionada mas mal realizada, simples esquecimento ou confusão. O fato é que a visão que se tinha era ao mesmo tempo triste e ridícula.
Não foi a primeira vez que eu me deparei com uma dessas senhoras idosas usando acessórios um tanto "incomuns". Mas ontem, depois de me pegar boquiaberta encarando a espantosa peruca, eu pensei sobre a velhice. Será que quando eu ficar velhinha vão me chamar de cafona e careta? Ou pior, será que se eu tentar me manter atualizada, vão dizer que eu sou ridícula? Logo vou fazer 24 anos, o que ainda é pouco. Né? Mas às vezes me preocupo com o futuro distante. OK, antes de pensar na aposentadoria eu primeiro preciso de um emprego, e antes de pensar em netos eu tenho que ter filhos. Mas para me aposentar eu preciso começar a pagar impostos agora, e para ter uma família eu preciso de (pelo menos quero) uma certa estabilidade econômica.
Outra grande preocupação, acreditem, são as rugas. Com certeza eu estou sendo superinfluenciada pela poderosa indústria de cosméticos japonesa, além de ver japonesas quarentonas super conservadas aos montes. Mas o pior é quando me chamam de "senhora"... =( Daí eu me lembro daquela ruguinha precoce e desenterro um pote de creme para aliviar a consciência. Infelizmente os cremes anti-rugas aqui no Japão são para velhas a partir de 25 anos.
Alta expectativa de vida é sinal de melhor qualidade de vida, pra humanidade, pra sociedade. Mas individualmente falando, nem sempre é assim. Sim, hoje em dia se é muito mais saudável aos 60 do que se era há algumas décadas, mas o sistema previdenciário não mudou tanto assim, e a aposentadoria chega cedo demais para pessoas que ainda podem trabalhar. Passam-se os anos, a saúde se torna mais frágil, e nessas horas em que não se pode cuidar de si mesmo, alguém tem que fazê-lo: a família, enfermeiros, o hospital, um asilo. Acho que o pior da velhice é a solidão. É isso que tem levado muitos idosos a querer se aposentar definitivamente dessa vida. Pensando nisso, ter um motivo para se enfeitar com uma peruca e poder sair de casa sozinha(o) é um bom sinal.

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