quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Ser humano

Quando recebi uma notificação do Google sobre a mudança do Google Docs para o Google Drive, fui ver o que eu tinha arquivado lá, e descobri o texto abaixo. Sinceramente, não me lembro exatamente do episódio que provocou em mim tamanha incredulidade, mas o fato é que hoje, felizmente, eu já não penso assim. 
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Ser humano é pensar, sentir e agir muito além do necessário para sobreviver. É ser social, é ter que interagir com outros seres humanos das mais diversas formas para atingir diversos objetivos, inclusive quando o objetivo é “não interagir“.

Prestes a completar um quarto de século de idade, acho que demorei a conhecer o lado “mau“ do ser humano. Não que eu desconhecesse essa realidade, só que nunca havia passado pela experiência da revelação pessoalmente. Depois que as pessoas revelam seu lado mau, é difícil confiar, e qualquer expressão de bondade, afeto ou amizade parece falsa.

 

O local de trabalho é um desses infernos disfarçados de paraíso. A natureza humana de fazer mais que o necessário para sobreviver aí se revela. Primeiro, vem o simples desejo de ganhar um extra, que faz com que o trabalhador se esforce mais para vender mais. Depois ele se dá conta de que a competição limita o resultado de seu esforço, e transfere parte da sua energia para derrubar os rivais, omitindo informações e sabotando aqueles trabalhos que são para o bem-comum mas que lhe trazem pouco ou nenhum benefício. O cuidado em manter a imagem de anjo é contínuo.

Eu, a princípio sem muita experiência profissional e, portanto, sem conhecimento a respeito desses inferninhos, pensei que (quase) todos eram anjos. Aqueles que desde o princípio se apresentam segurando um tridente, ou que pelo menos mantêm uma certa distância e poucas palavras, não mudam - são meros co-workers ou chefes, de cabo a rabo. Os que têm cara de anjo é que são os mais perigosos. Se fazem de amigos, às vezes até são, mas quando percebem que você pode ser uma ameaça ao seu status começam a agir silenciosamente para te derrubar.


As pessoas não vão ao trabalho para fazer amigos, por mais que no trabalho haja pessoas ótimas que seriam bons amigos. Quando os objetivos profissionais (muitas vezes anti-profissionais) interferem na relação até então amigável, pode esquecer a happy hour de sexta que a festa acabou.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Busão de Sampa - Eu, Passageira Indignada

Quem planejou não deve andar de ônibus...

Eu já comentei aqui no blog que um tempo atrás minha mãe deslocou o ombro andando de ônibus, né? Bom, para refrescar a memória: certo dia, ela estava indo pro trabalho de ônibus, segurando numa daquelas alças que ficam penduradas na barra, e o ônibus freou. Nem foi uma freada tão brusca, segundo ela, mas se você não estiver segurando firme, qualquer freada te joga pro lado. E foi o que aconteceu - ela se desequilibrou, tentou se segurar na alça, mas essas alças não são fixas, deslizam, e ela acabou torcendo o braço e deslocando o ombro.

Esse é só um exemplo de como os ônibus de São Paulo são, acima de tudo, mal planejados. O piso é tão alto que você tem que levantar a perna lá em cima para subir (cuidado com a saia, mulheres!) e pular para descer. Os que têm "piso baixo" têm degraus dentro do ônibus, então você tem que subir e descer de qualquer jeito para chegar ao fundo. Além disso, onde o piso é baixo a barra é tão alta que ninguém alcança. E ninguém gosta de ficar onde não dá para se segurar, né? Aí fica aquele vazio no meio do ônibus enquanto um monte de gente se espreme na parte da frente e ninguém consegue passar a catraca...

Ventilação = abrir as janelas. Esse sistema funciona muito bem. Quando não está chovendo. Imagine um ônibus lotado num dia de verão. Já é super quente, né? Daí começa aquela chuva grossa e todo mundo fecha as janelas, que logo começam a embaçar. Chega a ser desumano ter que ficar nessas condições, ainda mais de pé, sem ter em que se segurar, por sabe-se lá quanto tempo até o destino final. Isso se no caminho não tiver um alagamento e o ônibus tiver que desviar a rota bem antes do seu ponto!


Corredor que não corre

Esse corredor de ônibus pode ter sido uma boa ideia com boas intenções, mas de boas intenções o inferno tá cheio. E os paulistanos também estão cheios dessas obras cabeludas que mudam a cidade e nunca resolvem esse mal que é o trânsito. O corredor foi feito para dar passagem aos ônibus em detrimento dos carros e agilizar o transporte público. No entanto, o que eu vejo todo santo dia ali no Eldorado e na Faria Lima em horários de pico é uma fila de ônibus parados enquanto os carros trafegam muito mais livremente nas outras faixas.

No ponto da Faria Lima a causa é óbvia: o semáforo. O ônibus para no ponto, os passageiros descem, sobem e, quando o ônibus está pronto para partir, adivinhem? O semáforo está vermelho! Consequentemente, o ônibus não pode partir e os ônibus de trás não podem pegar os passageiros que esperam no ponto, tendo que esperar o semáforo abrir. Aí enquanto o semáforo está verde, outro ônibus está parado no ponto e quando ele vai partir, fecha de novo e vira uma porcaria só. Quanta perda de tempo!

Já no ponto do shopping Eldorado, a culpa é dos próprios passageiros. Sim, é uma tremenda falta de conscientização e bom senso. Um único ônibus fica parado 5 minutos no ponto esperando os passageiros entrarem para poder fechar a porta. Os que estão dentro do ônibus não abrem espaço para mais gente entrar; os que obstruem a porta ficam esperando a boa vontade dos de dentro; os que estão fora não arrredam pé, querendo pegar aquele ônibus de qualquer jeito. O que eles não pensam (ou não querem saber) é que, nesses 5 minutos, outro ônibus menos lotado já teria chegado. Esses 5 minutos de atraso criado por algumas pessoas são para todos - os que já estavam no ônibus, os que querem subir, e os passageiros dos ônibus de trás, que estão na fila do corredor que não anda. É cada um querendo garantir o seu, sem pensar que estão atrasando todo mundo, inclusive a si próprios.

Alguns centavos
para a educação

Dia 5 de janeiro a tarifa do ônibus passou de R$2,70 para R$3,00, um reajuste maior que a inflação e um preço alto demais para um sistema tão precário. Se nós somos obrigados a pagar, então que justifiquem esse aumento investindo em melhorias nos veículos, nas vias, remuneração e treinamento de motoristas e cobradores e, principalmente, na conscientização dos passageiros, que é praticamente inexistente.

Dentro dos ônibus pode-se ver uns cartazes pedindo aos passageiros que não consumam alimentos e bebidas, pois isso pode atrair insetos. Eles deveriam mencionar também que comer dentro do ônibus em movimento pode causar enjôos... como uma menina que vomitou no meu sapato... argh. Ela não devia ter mais de 3 anos de idade; estava sentada no colo da mãe, devorando um pacotinho de Fandangos às 10h da manhã. Pedagogia e nutrição à parte, enfim, a pobrezinha vomitou, duas vezes, perto da catraca. E aí uns desavisados que entravam no ônibus iam pisando naquilo sem perceber e espalhando a sujeira, e o cheiro... Gente, um nojo. E não tinha como limpar até chegar ao ponto final, porque no ônibus não tinha nem água, nem jornal, nada. Dá para viajar nessas condições? E agora nós temos que pagar R$3,00 por isso!

Por que o metrô, que custa R$2,65, parece coisa de outro mundo comparado aos ônibus de São Paulo? Por que as pessoas que andam de metrô são mais "civilizadas" que os passageiros de ônibus? Eu acho que a conscientização dos usuários responde por grande parte disso. Claro que o metrô, sendo uma rede limitada sob administração centralizada, é muito mais fácil de se controlar e fiscalizar. Mas os ônibus municipais também já estão muito mais unificados e organizados que alguns anos atrás, quando havia ônibus clandestinos e greves constantes. Com a formação de motoristas e cobradores que ajam como fiscais, é possível sim educar os passageiros de forma a conservar melhor os veículos e agilizar as paradas nos pontos. Mas é preciso destinar alguns daqueles R$0,30 para isso.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Golpe Microcamp - UMES

Faz mais ou menos um mês, ligaram em casa e minha mãe atendeu. Minha mãe estava de licença médica por ter deslocado o ombro graças àquela alça que tem nos ônibus, sabe? É, serve para segurar, mas não não tem segurança nenhuma. Mas a ligação nãe era para ela, era para mim. Disseram que era sobre um benefício da UMES e que mais informações só poderiam ser dadas pessoalmente. Deixaram um telefone de contato e pediram que eu retornasse.

Minha mãe me ligou no trabalho e me deu o recado. Eu fiquei curiosa e liguei.
- Central de atendimento.
- De onde fala?
- É da UMES.
- Posso falar com a Rafaela (acho que era esse o nome)?
- É ela.
- Me pediram para retornar para esse número, sobre um benefício da UMES.
- Ah, sim, qual o seu nome?
- (Meu nome)
- Sim, sra, a UMES sorteou alunos e ex-alunos para estarem recebendo uma bolsa no valor de R$200,00 mensais por até 2 anos para ser utilizada em um curso de qualificação profissional. Por que a senhora nunca entrou em contato para receber esse benefício?
- Como assim nunca entrei em contato? Ninguém nunca me falou nada.
- Ah, é? Bom, senhora, na verdade o prazo para receber termina amanhã (sexta), e a senhora tem que comparecer pessoalmente, tá? O endereço é na Rua Butantã, 77. Que horas a senhora pode comparecer?
- Eu não posso por causa do trabalho.
- Bom, nós vamos abrir uma exceção para as pessoas que trabalham como a senhora, estarem comparecendo no sábado. Que horas a senhora pode comparecer?
- Hum... umas 14h.
- Ok, sra, então eu vou estar deslocando [sic] o fiscal Daniel (não lembro o nome) para atendê-la. Então, por favor não chegue atrasada, tá, porque o fiscal Daniel vai estar esperando a senhora até as 14h.
- Ok.

Cheguei em casa e procurei o número de telefone e o endereço no Google, junto com as palavras "UMES", "bolsa qualificação profissional", e qual não foi minha surpresa ao ver que aquilo, afinal, não passava de uma grande enganação! O endereço era da Microcamp de Pinheiros. E olha que eu passo lá todo dia de ônibus.



No site da UMES realmente é mencionado um convênio entre a UMES e a Microcamp, mas ligar da Microcamp se identificando como UMES e oferecer uma "bolsa de qualificação profissional" que não passa de um desconto virtual em cursos da própria Microcamp... isso é G-O-L-P-E!

Um post do blog Boteco Sujo mostra uma apuração interessantíssima dessa estratégia maldosa da Microcamp.

Bom, continuando o meu relato, eu resolvi não perder meu tempo e não compareci à Microcamp, ops, à "UMES da rua Butantã" às 14h do sábado. Daí, às 14:15 ligam na minha casa e eu atendo. A tal da Rafaela já começa a conversa em tom de bully, como se EU fosse a errada na história.
- A senhora não compareceu aqui no horário agendado, posso saber o motivo?
- Olha, eu vi na internet que isso é propaganda enganosa e resolvi não ir. Eu passo aí todo dia e sei que o endereço é da Microcamp, não da UMES.
- A nossa sede fica em outro endereço, mas esse endereço da rua Butantã é somente o local onde o representante faz o atendimento, entendeu? Olha, nós deslocamos o fiscal Daniel só para atender a senhora e a senhora não compareceu.
- Tá, desculpa, mas de qualquer maneira eu não vou ter tempo de fazer nenhum curso de qualificação profissional então eu abro mão da bolsa.
- Tá bom, obrigada.

Caso encerrado. Ou pelo menos eu achava que estava. Até hoje de manhã, quando alguém me liga dizendo que é da UMES e pergunta logo de cara:
- Por qual motivo a senhora não compareceu no atendimento agendado?
- Eu já falei com uma das suas atendentes. Já falei os meus motivos.
- Mas qual o motivo? (já me deixou nervosa...)
- Olha, eu vi na internet que isso é propaganda enganosa e resolvi não ir!
- Senhora, o que a gente faz é um trabalho sério!
- Tá, mas é meu direito achar que é propaganda enganosa e não querer ir, não é?
- Senhora, ...
- Eu fui no endereço que me passaram e não era da UMES, era da Microcamp, não é?
- Olha,..
- Eu liguei na UMES (na verdade não tinha ligado) e me disseram que essa bolsa não existe!
- ... Aguarda um instante, senhora.

Desliguei. Que mané aguardar um instante para ficar ouvindo mais ladainha! Não sei por que eles se dão ao trabalho de insistir com alguém que já tinha descoberto que tudo não passava de um golpe.

Ainda bem que eu não cheguei a ser enganada. Mas eu vou entrar em contato com a UMES para perguntar o que ELES pensam dessa política da Microcamp e o que pretendem (ou se pretendem) fazer a respeito. Se eles têm um convênio com a Microcamp, não podem alegar indiferença e tirar o corpo fora. A UMES tem a obrigação de esclarecer em seu site o conteúdo do convênio e deixar bem claro que essa tal bolsa não existe. Se não quem vai acabar perdendo a credibilidade são eles.

Ai, se essa gentinha da Microcamp de Pinheiros me liga outra vez... Acho que aí sim, "eu estarei comparecendo", sem agendamento mesmo, para falar com algum fiscal deslocado.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Bali para dois+

Dia 12 de abril eu fui para Bali, Indonésia, e passei 3 dias e 3 noites lá. Era para ter sido uma super viagem, que eu já queria fazer havia muito tempo. Já tinha planejado essa viagem duas vezes, com pessoas diferentes, mas por motivos de trabalho etc. teve que ser cancelada, e dessa vez, como da vez que fui pro Havaí, tive que ir sozinha. Mas aí é que está o problema: Bali não é um lugar para ir sozinhA.

Quem não gosta de viajar desacompanhado irá dizer que nenhum lugar é bom quando se vai sozinho. Eu concordo parcialmente, já que a minha primeira viagem sozinha, para o Havaí, foi uma ótima experiência. E é exatamente por isso que eu me acho qualificada para dizer: não vá para Bali sozinhA! Se você for homem, talvez não seja ruim, você pode até ¨se dar bem¨, no sentido masculino da expressão. Mas uma mulher nas ruas de Kuta e Legian, as áreas mais lotadas de Bali, é como um peixe nadando no meio dos tubarões. E eu não digo somente no sentido de ser escaneada e xavecada pelos tiozinhos locais, mas também por se tornar mais vulnerável ao assédio dos vendedores, motoristas de táxi informais e locadores de motos que ficam posicionados a cada metro ou menos das ruas principais. Tudo isso me deixou tão estressada que acabou estragando meu passeio. Mas eu aindo quero voltar para lá, com mais tempo, dinheiro (o meu acabou antes do esperado) e acompanhada.

Como eu me limitei à área mais urbana da ilha, só sei através dos guias de viagem que no norte e centro de Bali pode-se ter contato com a natureza, passear montado num elefante e visitar as plantações em terraços, além de poder mergulhar e fazer outros esportes marítimos. Vi também nos sites de hotéis o que é um verdadeiro ¨asian resort¨, completamente distinto do modesto, úmido e barulhento budget hotel em que me hospedei...

Resumindo, eu estava no lugar certo, nas condições erradas e, principalmente, na companhia errada: eu mesma. Se teve algo de bom? Claro! Boa comida, boas compras, táxi barato, muito sol e nada de chuva e, exceto pelos tiozinhos, o povo de lá é gente finíssima.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Japão egocêntrico

Depois de tanto tempo no Japão, agora que eu estou indo embora, chegou a hora de falar umas poucas e boas. Não considero isso uma covardia do tipo "bate e corre". O fato é que se eu ficasse pensando em todas as coisas ruins que existem nessa sociedade, eu não teria aguentado viver aqui por tanto tempo.

Aos que pensam em vir para cá a passeio: recomendo, vale a pena, principalmente para quem tem um pouco de folga no bolso, o Japão é um país que tem muito a oferecer como ponto turístico.

Por que eu acho que não é um bom país para se viver, vai levar alguns posts para falar. Vamos começar com o egocentrismo, que se vê nos indivíduos e no país como um todo.

Muita gente tem uma imagem do povo japonês como sendo muito educado, polido, o que não deixa de ser verdade. Quando a ocasião pede (obriga, ou faz conveniente), os japoneses utilizam um vocabulário próprio - keigo - que serve para se dirigir a pessoas que estão em posição superior; por exemplo, pessoas mais velhas, professores, clientes, chefes etc. Mas mesmo que a forma seja bonita e expresse respeito, o conteúdo pode dizer exatamente o contrário, e daí vira uma hipocrisia só. Saindo dessa esfera, imagine um cenário bem típico onde todo mundo é teoricamente igual: os trens japoneses na hora do rush (já devem ter ouvido falar). Nessa luta pela sobrevivência - que significa não chegar atrasado para não levar uma comida de rabo do chefe, ou chegar super cedo para ganhar uns pontos -, é cada um por si. Se não dá para sentar, o próximo alvo são as argolas penduradas do teto para poder se segurar. Só que perto das portas não há argolas nem nada para segurar, além de ter que sair e entrar do trem seguindo o fluxo de pessoas a cada estação - ou seja, perto das portas é o pior lugar. Por incrível que pareça, em vez de ir mais pra dentro, onde geralmente tem mais espaço e fica mais fácil se segurar, as pessoas empacam por ali mesmo. Por quê? Porque ninguém tem coragem (ou sei lá o que é preciso) de pedir uma licença ou ir se enfiando. Por isso perto da porta as pessoas vão sendo esmagadas (isso dói de verdade) porque uns bananas espaçosos não querem dar uma apertada, e outros bananas passivos não querem dar uma empurrada. Ninguém pensa nos outros.

Com a mais alta expectativa de vida do mundo, o Japão é um país idoso. Para ser "velhinho" aqui, tem que parecer muito velho mesmo, porque umas rugas e cabelos brancos não vão dar direito a um assento preferencial no trem. Essa seria uma boa desculpa para explicar os velhinhos de pé dentro do trem. Mas não são só os velhinhos, são as gestantes também. Com uma das menores taxas de natalidade, não é o excesso de gestantes que faz algumas delas ter que ficar de pé no trem. Uma olhadinha no assento preferencial e o que você vê: jovens e adultos aparentemente saudáveis...dormindo. Ou fingindo que estão dormindo para não cederem o lugar. Quando se trata desse tipo de falta de educação, as pessoas em volta não falam nada, não condenam. Mas eu já presenciei e ouvi falar de vários casos de estrangeiros que levaram bronca de japoneses mal-humorados por falar alto (ou seria por falar em uma língua que eles não entendem?). Aliás, nesses casos eles não pedem para falar baixo, eles simplesmente mandam calar a boca ou algo do tipo.

Essa xenofobia/hipocrisia, hoje em dia muito bem disfarçada pelos esforços do governo em trazer estudantes estrangeiros (como eu) pras universidades e professores de inglês pras escolas públicas japonesas, é atribuída por muitos ao fato do Japão ser um arquipélago relativamente isolado do continente e de outras ilhas. Até que ponto isso é verdade eu não sei. Mas a falta de conhecimento e contato com outros países e culturas é notável aqui. Além disso, como os japoneses são compostos de praticamente uma única etnia, estrangeiros e japoneses "mix" não passam despercebidos. Se só isso já faz os estrangeiros se sentirem peixes fora d'água, adicione-se uma legislação que praticamente impossibilita um estrangeiro "puro" - ou seja, sem sangue japonês nem casado com um(a) - de virar japonês, mesmo nascido e criado aqui.

Será que essa aura de "segunda maior economia do mundo" que se fixou na sociedade japonesa a deixou numa posição tão confortável que eles simplesmente decidiram que estava tudo perfeito do jeito que estava? Os brasileiros vieram em massa, foram mandados embora aos montes, "cumpriram seu papel" nas fábricas mas, com exceção de pouquíssimos, não ganharam nada além de dinheiro. Pro Japão parece que foi o ideal, já que brasileiro que não fala japonês e não dá lucro só dá trabalho. Mas pensando na população ativa japonesa, aqueles que (mais importante!) sustentam o sistema previdenciário, o governo deveria tratar a questão da imigração com mais seriedade e não como um simples tapa-buraco temporário. Não há maneira de sustentar a futura população de aposentados sem aumentar a população ativa, mas se for depender da boa vontade dos japoneses de fazerem filhinhos, acho que vai ser tarde demais.
Quem sabe daqui para frente - a começar esse ano, quando será ultrapassado pela China - o Japão se dá conta que não é só dinheiro que faz um país crescer? Que não basta criar novas tecnologias se as instituições que sustentam a sociedade continuam paradas no tempo? Eu estarei vendo de fora.

domingo, 3 de janeiro de 2010

2010

Feliz 2010!
Finalmente chegou o ano da grande virada. Acho que nem preciso fazer promessas de ano novo, porque algumas decisões terão que ser feitas de qualquer jeito e não dá pra deixar pro ano que vem.

Ano passado foi um ótimo ano. Novo trabalho, novas pessoas e novas experiências. Definitivamente melhor que 2008.

A virada foi legal, com amigos e o namorado numa balada em Shibuya. Lá pelas 3h e pouco saímos e fomos comer, depois voltamos (dia 31 os trens funcionam a noite toda) com a intenção de ir no templo fazer hatsumoude (a primeira visita/prece do ano). Mas no fim estávamos tão cansados e com tanto frio que fomos direto pra casa dormir. O hatsumoude, meu primeiro e provavelmente último em 7 anos de Japão, acabou ficando para hoje. No templo, muita gente supersticiosa jogando moedas para os deuses e comprando omikuji (papeizinhos sorteados que prevêem a sorte). Minha sorte: ótima :)

A partir de amanhã é voltar pro batente, começar a desmontar a casa, renovar o guarda-roupa e esperar pelas próximas férias. Alguém na TV disse outro dia que os franceses trabalham para tirar férias, enquanto os japoneses trabalham por trabalhar e se sentem culpados e inseguros em tirar férias longas. Daqui pra frente, eu não pretendo abrir mão dos meus 30 dias.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Virando criança... e vovozinha?

Apesar de ter ido 3 vezes na Universal Studios Japan em Osaka, eu nunca tinha ido na Tokyo Disneyland. Dia 5 eu fui. Mas não na "Disneyland" e sim na "Disney Sea", que é um parque anexo aa Disneyland e faz parte do complexo Tokyo Disney Resort.
A média da população japonesa já é meio "jovem" psicologicamente, chegando muitas vezes a ser infantil. Se pessoas normais, como eu (pelo menos eu me considero), viram crianças por um dia dentro de um parque desses, imaginem os japoneses, que são fãs de coisas bonitinhas e personagens de desenho animado. Parecia um Halloween. Todo mundo com orelhinha de Mickey/Minnie (eu também!!), ou Pato Donald, Stitch etc etc etc. No fim da tarde começou a chover e daí surgiram uns vestidos com capa de chuva do Mickey (com orelhinha no capuz e tudo).

Obviamente é um grande shopping center além de parque de diversões. Você acaba gastando, mesmo sem querer. Mas é divertidíssimo. Não é nem tanto pela adrelina dos brinquedos, porque fora a Torre do Terror, que é aquele elevador que despenca, tem uma mini-montanha-russa com um looping e o resto é super tranquilo. Mas toda a decoração, o cenário, é como se você estivesse dentro de um filme. Exceto pelo frio, a chuva e a dor nas pernas, quase dá pra esquecer do mundo real lá fora.

Falando em dor nas pernas, desde de antes de ir na Disney eu já estava sentindo uma dor na coluna que eu nunca tinha tido antes. Fiquei aguentando por umas 2 semanas até que resolvi ir no massagista, também pela primeira vez na vida. Meio caro (50 dólares por 40 min) mas uau... vale a pena. Infelizmente não resolveu o problema pela raiz porque aquilo era resultado de muito tempo de má postura. Fui lá gastar mais 20 numa almofada para deixar na cadeira da firma, onde já se encontra pendurado meu xale para quando o ar condicionado está muito frio. Para completar, comecei a tricotar. Confesso que é muito bom ter um hobby (mais um) que não exige raciocínio. O tempo passa rapidinho... e no fim eu percebo que estou com dor nos ombros. Assim não dá... tô velha.