quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Golpe Microcamp - UMES

Faz mais ou menos um mês, ligaram em casa e minha mãe atendeu. Minha mãe estava de licença médica por ter deslocado o ombro graças àquela alça que tem nos ônibus, sabe? É, serve para segurar, mas não não tem segurança nenhuma. Mas a ligação nãe era para ela, era para mim. Disseram que era sobre um benefício da UMES e que mais informações só poderiam ser dadas pessoalmente. Deixaram um telefone de contato e pediram que eu retornasse.

Minha mãe me ligou no trabalho e me deu o recado. Eu fiquei curiosa e liguei.
- Central de atendimento.
- De onde fala?
- É da UMES.
- Posso falar com a Rafaela (acho que era esse o nome)?
- É ela.
- Me pediram para retornar para esse número, sobre um benefício da UMES.
- Ah, sim, qual o seu nome?
- (Meu nome)
- Sim, sra, a UMES sorteou alunos e ex-alunos para estarem recebendo uma bolsa no valor de R$200,00 mensais por até 2 anos para ser utilizada em um curso de qualificação profissional. Por que a senhora nunca entrou em contato para receber esse benefício?
- Como assim nunca entrei em contato? Ninguém nunca me falou nada.
- Ah, é? Bom, senhora, na verdade o prazo para receber termina amanhã (sexta), e a senhora tem que comparecer pessoalmente, tá? O endereço é na Rua Butantã, 77. Que horas a senhora pode comparecer?
- Eu não posso por causa do trabalho.
- Bom, nós vamos abrir uma exceção para as pessoas que trabalham como a senhora, estarem comparecendo no sábado. Que horas a senhora pode comparecer?
- Hum... umas 14h.
- Ok, sra, então eu vou estar deslocando [sic] o fiscal Daniel (não lembro o nome) para atendê-la. Então, por favor não chegue atrasada, tá, porque o fiscal Daniel vai estar esperando a senhora até as 14h.
- Ok.

Cheguei em casa e procurei o número de telefone e o endereço no Google, junto com as palavras "UMES", "bolsa qualificação profissional", e qual não foi minha surpresa ao ver que aquilo, afinal, não passava de uma grande enganação! O endereço era da Microcamp de Pinheiros. E olha que eu passo lá todo dia de ônibus.



No site da UMES realmente é mencionado um convênio entre a UMES e a Microcamp, mas ligar da Microcamp se identificando como UMES e oferecer uma "bolsa de qualificação profissional" que não passa de um desconto virtual em cursos da própria Microcamp... isso é G-O-L-P-E!

Um post do blog Boteco Sujo mostra uma apuração interessantíssima dessa estratégia maldosa da Microcamp.

Bom, continuando o meu relato, eu resolvi não perder meu tempo e não compareci à Microcamp, ops, à "UMES da rua Butantã" às 14h do sábado. Daí, às 14:15 ligam na minha casa e eu atendo. A tal da Rafaela já começa a conversa em tom de bully, como se EU fosse a errada na história.
- A senhora não compareceu aqui no horário agendado, posso saber o motivo?
- Olha, eu vi na internet que isso é propaganda enganosa e resolvi não ir. Eu passo aí todo dia e sei que o endereço é da Microcamp, não da UMES.
- A nossa sede fica em outro endereço, mas esse endereço da rua Butantã é somente o local onde o representante faz o atendimento, entendeu? Olha, nós deslocamos o fiscal Daniel só para atender a senhora e a senhora não compareceu.
- Tá, desculpa, mas de qualquer maneira eu não vou ter tempo de fazer nenhum curso de qualificação profissional então eu abro mão da bolsa.
- Tá bom, obrigada.

Caso encerrado. Ou pelo menos eu achava que estava. Até hoje de manhã, quando alguém me liga dizendo que é da UMES e pergunta logo de cara:
- Por qual motivo a senhora não compareceu no atendimento agendado?
- Eu já falei com uma das suas atendentes. Já falei os meus motivos.
- Mas qual o motivo? (já me deixou nervosa...)
- Olha, eu vi na internet que isso é propaganda enganosa e resolvi não ir!
- Senhora, o que a gente faz é um trabalho sério!
- Tá, mas é meu direito achar que é propaganda enganosa e não querer ir, não é?
- Senhora, ...
- Eu fui no endereço que me passaram e não era da UMES, era da Microcamp, não é?
- Olha,..
- Eu liguei na UMES (na verdade não tinha ligado) e me disseram que essa bolsa não existe!
- ... Aguarda um instante, senhora.

Desliguei. Que mané aguardar um instante para ficar ouvindo mais ladainha! Não sei por que eles se dão ao trabalho de insistir com alguém que já tinha descoberto que tudo não passava de um golpe.

Ainda bem que eu não cheguei a ser enganada. Mas eu vou entrar em contato com a UMES para perguntar o que ELES pensam dessa política da Microcamp e o que pretendem (ou se pretendem) fazer a respeito. Se eles têm um convênio com a Microcamp, não podem alegar indiferença e tirar o corpo fora. A UMES tem a obrigação de esclarecer em seu site o conteúdo do convênio e deixar bem claro que essa tal bolsa não existe. Se não quem vai acabar perdendo a credibilidade são eles.

Ai, se essa gentinha da Microcamp de Pinheiros me liga outra vez... Acho que aí sim, "eu estarei comparecendo", sem agendamento mesmo, para falar com algum fiscal deslocado.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Bali para dois+

Dia 12 de abril eu fui para Bali, Indonésia, e passei 3 dias e 3 noites lá. Era para ter sido uma super viagem, que eu já queria fazer havia muito tempo. Já tinha planejado essa viagem duas vezes, com pessoas diferentes, mas por motivos de trabalho etc. teve que ser cancelada, e dessa vez, como da vez que fui pro Havaí, tive que ir sozinha. Mas aí é que está o problema: Bali não é um lugar para ir sozinhA.

Quem não gosta de viajar desacompanhado irá dizer que nenhum lugar é bom quando se vai sozinho. Eu concordo parcialmente, já que a minha primeira viagem sozinha, para o Havaí, foi uma ótima experiência. E é exatamente por isso que eu me acho qualificada para dizer: não vá para Bali sozinhA! Se você for homem, talvez não seja ruim, você pode até ¨se dar bem¨, no sentido masculino da expressão. Mas uma mulher nas ruas de Kuta e Legian, as áreas mais lotadas de Bali, é como um peixe nadando no meio dos tubarões. E eu não digo somente no sentido de ser escaneada e xavecada pelos tiozinhos locais, mas também por se tornar mais vulnerável ao assédio dos vendedores, motoristas de táxi informais e locadores de motos que ficam posicionados a cada metro ou menos das ruas principais. Tudo isso me deixou tão estressada que acabou estragando meu passeio. Mas eu aindo quero voltar para lá, com mais tempo, dinheiro (o meu acabou antes do esperado) e acompanhada.

Como eu me limitei à área mais urbana da ilha, só sei através dos guias de viagem que no norte e centro de Bali pode-se ter contato com a natureza, passear montado num elefante e visitar as plantações em terraços, além de poder mergulhar e fazer outros esportes marítimos. Vi também nos sites de hotéis o que é um verdadeiro ¨asian resort¨, completamente distinto do modesto, úmido e barulhento budget hotel em que me hospedei...

Resumindo, eu estava no lugar certo, nas condições erradas e, principalmente, na companhia errada: eu mesma. Se teve algo de bom? Claro! Boa comida, boas compras, táxi barato, muito sol e nada de chuva e, exceto pelos tiozinhos, o povo de lá é gente finíssima.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Japão egocêntrico

Depois de tanto tempo no Japão, agora que eu estou indo embora, chegou a hora de falar umas poucas e boas. Não considero isso uma covardia do tipo "bate e corre". O fato é que se eu ficasse pensando em todas as coisas ruins que existem nessa sociedade, eu não teria aguentado viver aqui por tanto tempo.

Aos que pensam em vir para cá a passeio: recomendo, vale a pena, principalmente para quem tem um pouco de folga no bolso, o Japão é um país que tem muito a oferecer como ponto turístico.

Por que eu acho que não é um bom país para se viver, vai levar alguns posts para falar. Vamos começar com o egocentrismo, que se vê nos indivíduos e no país como um todo.

Muita gente tem uma imagem do povo japonês como sendo muito educado, polido, o que não deixa de ser verdade. Quando a ocasião pede (obriga, ou faz conveniente), os japoneses utilizam um vocabulário próprio - keigo - que serve para se dirigir a pessoas que estão em posição superior; por exemplo, pessoas mais velhas, professores, clientes, chefes etc. Mas mesmo que a forma seja bonita e expresse respeito, o conteúdo pode dizer exatamente o contrário, e daí vira uma hipocrisia só. Saindo dessa esfera, imagine um cenário bem típico onde todo mundo é teoricamente igual: os trens japoneses na hora do rush (já devem ter ouvido falar). Nessa luta pela sobrevivência - que significa não chegar atrasado para não levar uma comida de rabo do chefe, ou chegar super cedo para ganhar uns pontos -, é cada um por si. Se não dá para sentar, o próximo alvo são as argolas penduradas do teto para poder se segurar. Só que perto das portas não há argolas nem nada para segurar, além de ter que sair e entrar do trem seguindo o fluxo de pessoas a cada estação - ou seja, perto das portas é o pior lugar. Por incrível que pareça, em vez de ir mais pra dentro, onde geralmente tem mais espaço e fica mais fácil se segurar, as pessoas empacam por ali mesmo. Por quê? Porque ninguém tem coragem (ou sei lá o que é preciso) de pedir uma licença ou ir se enfiando. Por isso perto da porta as pessoas vão sendo esmagadas (isso dói de verdade) porque uns bananas espaçosos não querem dar uma apertada, e outros bananas passivos não querem dar uma empurrada. Ninguém pensa nos outros.

Com a mais alta expectativa de vida do mundo, o Japão é um país idoso. Para ser "velhinho" aqui, tem que parecer muito velho mesmo, porque umas rugas e cabelos brancos não vão dar direito a um assento preferencial no trem. Essa seria uma boa desculpa para explicar os velhinhos de pé dentro do trem. Mas não são só os velhinhos, são as gestantes também. Com uma das menores taxas de natalidade, não é o excesso de gestantes que faz algumas delas ter que ficar de pé no trem. Uma olhadinha no assento preferencial e o que você vê: jovens e adultos aparentemente saudáveis...dormindo. Ou fingindo que estão dormindo para não cederem o lugar. Quando se trata desse tipo de falta de educação, as pessoas em volta não falam nada, não condenam. Mas eu já presenciei e ouvi falar de vários casos de estrangeiros que levaram bronca de japoneses mal-humorados por falar alto (ou seria por falar em uma língua que eles não entendem?). Aliás, nesses casos eles não pedem para falar baixo, eles simplesmente mandam calar a boca ou algo do tipo.

Essa xenofobia/hipocrisia, hoje em dia muito bem disfarçada pelos esforços do governo em trazer estudantes estrangeiros (como eu) pras universidades e professores de inglês pras escolas públicas japonesas, é atribuída por muitos ao fato do Japão ser um arquipélago relativamente isolado do continente e de outras ilhas. Até que ponto isso é verdade eu não sei. Mas a falta de conhecimento e contato com outros países e culturas é notável aqui. Além disso, como os japoneses são compostos de praticamente uma única etnia, estrangeiros e japoneses "mix" não passam despercebidos. Se só isso já faz os estrangeiros se sentirem peixes fora d'água, adicione-se uma legislação que praticamente impossibilita um estrangeiro "puro" - ou seja, sem sangue japonês nem casado com um(a) - de virar japonês, mesmo nascido e criado aqui.

Será que essa aura de "segunda maior economia do mundo" que se fixou na sociedade japonesa a deixou numa posição tão confortável que eles simplesmente decidiram que estava tudo perfeito do jeito que estava? Os brasileiros vieram em massa, foram mandados embora aos montes, "cumpriram seu papel" nas fábricas mas, com exceção de pouquíssimos, não ganharam nada além de dinheiro. Pro Japão parece que foi o ideal, já que brasileiro que não fala japonês e não dá lucro só dá trabalho. Mas pensando na população ativa japonesa, aqueles que (mais importante!) sustentam o sistema previdenciário, o governo deveria tratar a questão da imigração com mais seriedade e não como um simples tapa-buraco temporário. Não há maneira de sustentar a futura população de aposentados sem aumentar a população ativa, mas se for depender da boa vontade dos japoneses de fazerem filhinhos, acho que vai ser tarde demais.
Quem sabe daqui para frente - a começar esse ano, quando será ultrapassado pela China - o Japão se dá conta que não é só dinheiro que faz um país crescer? Que não basta criar novas tecnologias se as instituições que sustentam a sociedade continuam paradas no tempo? Eu estarei vendo de fora.

domingo, 3 de janeiro de 2010

2010

Feliz 2010!
Finalmente chegou o ano da grande virada. Acho que nem preciso fazer promessas de ano novo, porque algumas decisões terão que ser feitas de qualquer jeito e não dá pra deixar pro ano que vem.

Ano passado foi um ótimo ano. Novo trabalho, novas pessoas e novas experiências. Definitivamente melhor que 2008.

A virada foi legal, com amigos e o namorado numa balada em Shibuya. Lá pelas 3h e pouco saímos e fomos comer, depois voltamos (dia 31 os trens funcionam a noite toda) com a intenção de ir no templo fazer hatsumoude (a primeira visita/prece do ano). Mas no fim estávamos tão cansados e com tanto frio que fomos direto pra casa dormir. O hatsumoude, meu primeiro e provavelmente último em 7 anos de Japão, acabou ficando para hoje. No templo, muita gente supersticiosa jogando moedas para os deuses e comprando omikuji (papeizinhos sorteados que prevêem a sorte). Minha sorte: ótima :)

A partir de amanhã é voltar pro batente, começar a desmontar a casa, renovar o guarda-roupa e esperar pelas próximas férias. Alguém na TV disse outro dia que os franceses trabalham para tirar férias, enquanto os japoneses trabalham por trabalhar e se sentem culpados e inseguros em tirar férias longas. Daqui pra frente, eu não pretendo abrir mão dos meus 30 dias.