terça-feira, 9 de dezembro de 2003

Noossa, fala sério! Mais de um mês que eu não escrevo? Mas eu tenho uma razão muito justa: um longo e tenebroso período de provas, que terminou sexta-feira passada, com o anúncio dos resultados. Sem comentários sobre os meus.

O Brasil terminou em primeiro lugar na Copa do Mundo de Volei Masculino e em segundo, no feminino. Mas ganhou do Japão em ambos. Eu não estava torcendo pro time feminino do Japão, mas eu asisti a quase todos os jogos do time masculino. 2 razões: estou no Japão, eles só transmitem os jogos do time da casa; 2a e mais importante razão - o japonês mais bonito que eu já vi no Japão era o capitão do time. Vocês provavelmente não se lembrarão, mas o nome dele é Kato e ele náo tem cara de japonês. Não, não é que ele pareça alemão, espanhol ou coisa do tipo. Ele só não parece um japonês do Japão. Ok, ex.: ele poderia ser um japonês-brasileiro, que é bem diferente de um japonês do Japão.

Voltando às provas. Eu fiquei muito estressada, e dormi umas 4 ou 5 horas por noite pra poder estudar. No fim da semana, nem conseguia dormir como antes, porque já estava acostumada. Mas agora tudo voltou ao normal. Na 4a feira, dia da prova de kanji, eu terminei a prova no tempo mínimo e voltei pro meu quarto ainda às 10 da manhã. Resolvi tirar um cochilo. Acordei num susto, olhei pro relógio, eram 10h40. Eu fiquei desesperada. Pensei: puta merda, perdi a prova! Em um segundo, mil coisas passaram pela minha cabeça: vou ficar sem nota, adeus, universidade de Kobe, blablabla. Aí eu me dei conta de que já havia feito a prova. Dããã!!

Hoje eu estou usando lentes de contato. Fui ao oftalmo, comprei as lentes, paguei os olhos da cara para tê-las por 3 meses. Mas também nunca mais compro lentes aqui no Japão. Vou encomendar do Brasil. E também não vou mais a porcaria de médico nenhum aqui, a não ser em caso de emergência. Esse oftalmologista só deu uma olhada nos meus olhos com uma luzinha, quem fez todo o resto foram as enfermeiras. Resultado: EU descobri que tinha alguma coisa errada. Quando eu fui pegar as lentes, eles me deram umas lentes de teste, para conferir se estava tudo ok. Eu percebi que a vista do olho esquerdo estava meio estranha, como se a lente estivesse desalinhada, e disse pra enfermeira que estava estranho. O médico deu uma olhada, e ficou por isso mesmo. Pensei: devo ter colocado a lente de maneira errada. Quando eu fui conferir os dados da caixinha com a receita que eu tinha da minha médica no Brasil, de fato o ângulo (não sei o nome) do olho esquerdo é 180, e o do olho direito é 170. As lentes que eles me deram eram ambas 170. Semana que vem eu volto lá. Ah, e eles não me deram receita nenhuma, nada.

Outro dia nós lemos uma frase no livro de gramática que era algo do tipo: " Depende do médico contar ao paciente de câncer que ele tem a doença." O professor disse que muitas vezes o paciente fica sem saber. Eu fiquei revoltada. Perguntei: "Até quando? Até morrer?" Ele disse que sim. Eu gritei (foi instintivo, e bem mal-educado): "Isso é horrível!" Eu até fiquei com um pouco de vergonha depois, mas agora todo mundo sabe o que eu penso a respeito. O professor perguntou se no Brasil era diferente. Eu disse que sim, mas na verdade eu não tenho tanta certeza. O médico deve contar ao paciente da sua situação, caso ele esteja consciente? Digo, mesmo que a família se oponha, o que diz a ética médica brasileira?

Meu segundo dente do siso já despontou, e numa posição errada. Eu sinto que o terceiro está por vir, porque minha gengiva está inchada e doendo. O que quer que seja, se não for muito necessário, eu prefiro ficar com os dentes tortos e consertá-los no Brasil do que ir ao dentista aqui no Japão. Perdi a confiança, quer dizer, a esperança.