terça-feira, 14 de novembro de 2006

Instinto Materno

Não posso afirmar nada a respeito do assunto, porque nunca estudei sobre isso. Só quero registrar algo que pensei hoje.

Enquanto eu escrevo esse post, tá passando na Discovery um programa sobre os instintos humanos de auto-defesa e de salvar alguém em perigo. Nos EUA, uma mulher passeando a cavalo com o filho e algumas outras crianças salvou o filho que estava sendo atacado por um puma. Ela gritou, chamando a atenção do animal, quebrou um galho e o enfrentou. Enquanto isso as outras crianças foram procurar ajuda, levando o garoto ferido. Quando encontraram a mulher, depois de 2 horas, ela já estava gravemente ferida, mas só morreu depois de ouvir que o filho estava bem.

Você já deve ter ouvido alguma história de uma mãe que levantou um carro ou um portão automático para salvar o filho. Verdade ou não, o ser humano pode sim revelar uma força antes desconhecida em caso de perigo extremo, pra si próprio ou outra pessoa. No caso das mães, dizem que isso é instinto materno. Mas "instinto" é para ser algo inerente ao ser humano, certo? Bom, se nem todas as mães possuem instinto materno, será que esse instinto existe mesmo?

Hoje de manhã gastaram um programa inteiro contando a vida de uma japonesa que estrangulou o filho de 4 anos, abandonou-o num córrego perto de casa e duas horas depois saiu gritando pela vizinhança fingindo estar buscando o filho que havia desaparecido.

Aqui no Japão, infelizmente, essas coisas acontecem toda semana. Pais que matam filhos, filhos que matam pais. Vendo essa realidade, é difícil acreditar em instinto materno. Ou esse instinto está desaparecendo em parte da humanidade. Afinal, se uma mãe tem como instinto proteger o filho, como pode ela mesma espancar e até mesmo matá-lo?

domingo, 30 de julho de 2006

Gaijin x Japa - chega dessa merda!!

Depois de ver algumas comunidades no orkut usando as palavras "gaijin" e "nihonjin", uns falando mal dos outros, cheios de preconceito e ignorância, não pude conter minha indignação. Apesar de ter muita gente que só usa essas palavras pra designar descendente de japonês ou não, elas são lenha na fogueira da xenofobia mascarada pela "cultura multi-étnica" brasileira.

Eu não deveria me importar tanto com certas pessoas incoerentes que dizem "gaijin quer dizer estrangeiro, e os estrangeiros são vcs [descendentes de japoneses] que tão na nossa terra. Sem preconceito!", mas não dá. Nossa terra? Que merda é essa? Estrangeiros são vcs?

Vamos deixar umas coisas bem claras:
1. Quem nasce no Brasil e/ou adota o país como seu é brasileiro, independente da ascendência.
2. Gaijin quer dizer, sim, estrangeiro, e no Japão essa palavra é considerada depreciativa, apesar de nós mesmos nos chamarmos de gaijins. Depois de vir pra cá e saber disso, passei a achar errado o uso dessa palavra pelos nikkeis brasileiros pra designar os não-descendentes. O problema é que, além de ser mais fácil que dizer "não-descendentes de japoneses", a palavra já ficou tão comum que fica um pouco difícil de substituí-la.
3. Descendentes de asiáticos (japoneses, chineses e coreanos) ainda são vítimas de piadinhas e apelidos ridículos, além de uma generalização que é fruto da mesma ignorância. Afinal, quem faz esse tipo de piadinha na rua não quer saber se vc é descendente de japoneses, chineses ou coreanos. Tendo olhos puxados basta, certo?
4. Nihonjin quer dizer japonês. Na minha família, pelo menos, só tem duas nihonjins, que são minhas avós. Eu não sou nihonjin, sou nikkei. Aqui no Japão, aliás, eu sou gaijin.

Quando alguém na família (na minha e na maioria das famílias nikkeis) arranja um(a) namorado(a), é comum perguntarem se é "nihonjin ou gaijin", né? Mesmo que não faça a menor diferença, eles perguntam, não perguntam? Na geração dos nossos pais era comum (e desejável) que nikkeis se casassem entre si, mas na nossa geração não tem que ser e já não é assim. Eu, pelo menos, não vou fazer pros meus filhos essa pergunta.

Essa palavra, gaijin... eu espero que ela desapareça quando não houver mais a necessidade de caracterizar uma pessoa como descendente ou não de japoneses. Se não, espero que seja substituída por algo mais coerente, já que nós estamos falando de brasileiros e nada mais. Confesso, não faz muito tempo que eu mesma usei essa palavra. Mas foi ingênuo da minha parte pensar que, se eu não tivesse nenhum preconceito, tudo bem usar esse termo, já que é mais fácil, como eu disse. Peço desculpas aos que se ofendem e prometo fazer o máximo pra não usar mais essa palavra. A propósito, o que eu disse foi "acho que me dou melhor com caras gaijins". Esse negócio de chamar os nonnikkeis de gaijins só porque eles nos chamam de japa, china, coreba, também não tem nada a ver.

O que todos nós temos que fazer é aprender a respeitar todas as culturas e etnias do MUNDO, porque no Brasil há um pouco de cada uma delas e TODAS são parte importante daquilo que a gente chama cultura brasileira.

sábado, 1 de julho de 2006

Déjà vu?

Foi a pior derrota da MINHA história. Eu nunca tinha assistido a uma Copa do Mundo com tanto fervor. Vai ver que, por estar no meio de um monte de japoneses, eu tive que torcer com uma intensidade 10 vezes maior pra não deixar o espírito canarinho apagar.
O Brasil começou bem o jogo, e a França parecia defensiva, mas essa tranquilidade só durou até a metade do primeiro tempo. Quando a França começou a atacar, eu já comecei a sentir aquele frio na barriga... Perder pra França de novo seria uma punhalada no orgulho de milhões de brasileiros.
Eu já esperava um jogo difícil, mas não um jogo feio. Uma chuva de cartões amarelos pra combinar com a nossa camisa, poucos chutes a gol e um show de Zidane só podiam ter ficado piores com o coro da torcida brasileira "Ei, Parreira, vai tomar no cú". Quando eu ouvi aquilo, parte de mim queria que o Brasil perdesse pelo simples fato de que aquela torcida não merecia ver o Brasil ganhar. Mas aquela era somente uma parte privilegiada de uma nação torcedora.
Eu não acho que o Brasil jogou tão mal. Só que podia ter jogado muito melhor. O problema é que, sendo os atuais campeões e carregando cinco vitórias nas costas, nos acostumamos a vencer. E quando não vencemos, alguém tem que levar a culpa - e, eventualmente, os xingos da torcida.
Ainda não posso dizer que gosto de futebol, mas posso dizer que sou fiel torcedora da seleção e agora eu entendo o que é sofrer por futebol. Sendo assim, eu me sinto no direito de criticar outros torcedores. E a torcida gritando pro Parreira merece o título de pior performance da Copa. Acho que a gente deveria aprender um pouco com a torcida da Croácia...

sexta-feira, 23 de junho de 2006

Decisões

Ufa! O Brasil passou da primeira fase sem nenhuma derrota e fechou com chave de ouro - o Ronaldo que o diga -, 4 a 1 contra o Japão. É sempre bom ver o Brasil golear, mas ontem, sinceramente, eu não me importaria se o Japão tivesse ganhado. É que o Brasil já estava classificado mesmo, e o Japão precisava da vitória pra continuar na Copa. Mas não teve jeito, venceu o melhor, e o Japão precisa aprender a atacar. Fiquei feliz pelo Ronaldo! Tadinho, todo mundo só chamando ele de gordo, lerdo... ele jogou bem ontem. Próximo jogo contra Gana? É... eu não vi nenhum jogo deles, mas se eles passaram da primeira fase há uma razão pra isso.

Bom, fora as decisões da Copa, finalmente chegou o momento de eu decidir alguma coisa sobre o futuro. Há algum tempo eu já tinha decidido o que quero fazer como profissão: quero trabalhar na área de turismo, que não tem nada a ver com Pedagogia. Isso significa que essa faculdade não será exatamente útil na minha vida profissional, mas não vou abandonar. Aliás, essa semana eu já tenho que escolher o meu professor-orientador e o tema do meu TCC, só que eu não faço a mínima idéia. Ainda mais agora que eu sei que isso não vai me ajudar a arrumar um emprego, eu estou pensando que qualquer coisa serve... Mas na verdade isso deveria ser algo positivo, certo? Já que eu não preciso me especializar na área em que quero trabalhar (pelo menos não nessa faculdade), eu posso estudar algo que eu ache interessante, simplesmente pelo fato de ser interessante. Agora, tantas coisas são interessantes... Meu, não tem jeito, eu serei eternamente uma pessoa indecisa!

terça-feira, 13 de junho de 2006

Vamos todos juntos!

Começou o maior espetáculo da Terra... ops, acho que isso é coisa de circo. Mas tudo bem, começou o maior evento esportivo do planeta: a Copa do Mundo. O Brasil começou com o pé esquerdo - o de Kaká, que marcou o único gol da vitória contra os croatas, e não foi muito bem, na minha opinião. O que me deixa muito preocupada em relação aos jogos seguintes. A gente ganhou da Croácia, que eu achei que seria o adversário mais difícil do grupo, mas foi só o primeiro jogo. O Japão sofreu uma derrota inacreditável contra a Austrália... justo quando eu estava torcendo! Vai que eles vêm com toda a força pra cima do Brasil... Afinal, o Japão não tem sido adversário fácil pra seleção nesses últimos anos, né?

E blá, blá, blá. Quem se importa com as minhas opiniões sobre futebol? Se bem que esse é o meu blog e eu escrevo o que eu quiser. Mas a verdade é que o mais importante de tudo isso é a festa, a identificação com os outros brasileiros que vc nem conhece, o orgulho de vestir as cores do Brasil e mostrar pra todo mundo que vc é brasileiro! Se bem que aqui no Japão, com esse monte de artigos verde-e-amarelo que as grandes marcas esportivas lançaram e que estão por toda a parte, desfilar as cores da bandeira não é privilégio dos brazucas. Ah, mas para não deixar dúvidas, eu pintei as unhas de verde, azul e amarelo e também estou usando umas presilhas de cabelo verdes e amarelas.

Uma das poucas aulas que eu tenho esse semestre é sobre o futebol como "cultura que ultrapassa barreiras" sociais, culturais e econômicas. É interessante e, apesar de parecer picaretagem falar sobre futebol na faculdade, a matéria é bem fundamentada. O professor é uma figura: fã do futebol britânico, usa jeans rasgados e óculos iguais aos do Elvis Costello. Nas primeiras aulas ele sempre trazia alguma música pra tocar no começo ou no fim, sempre relacionadas com futebol. Uma vez ele trouxe "Mas que Nada", do Sérgio Mendes com o Black Eyed Peas, que tá tocando naquele comercial da Nike onde os brasileiros aparecem batendo uma bola no vestiário. Eu não conhecia, mas adorei. Ele vem pro Japão em setembro, e os ingressos custam quase 200 reais...

Adoro esse clima de copa! Só espero que o Brasil vá até a final, se não não tem graça. O professor dessa aula que eu falei já disse pra todo mundo torcer pra outro time, porque o Japão não quer saber de ganhar, pra eles tá bom ficar passando a bola... hahahaha! Mas pra eu torcer pra outro time que não o Brasil... difícil, hein?

quarta-feira, 19 de abril de 2006

Café comemorativo - 100 anos de imigração

Em vista do aniversário de 100 anos da imigração japonesa em 2008, as cidades brasileiras onde se concentram um grande número de nikkeis já estão realizando - ou ao menos planejando - eventos comemorativos. Aqui no Japão, no entanto, as pessoas parecem conhecer o Brasil mais pelo futebol e pela imigração inversa de dekasseguis do que pelos milhares de imigrantes que atravessaram o planeta para trabalhar no Brasil, e que criaram a maior comunidade nipônica do mundo fora do arquipélago japonês.
Com certeza aqui também serão realizados eventos comemorativos, já que o Japão preza a diplomacia e adora cerimônias de todo tipo, mas isso eu não sei em detalhes. O que me chamou a atenção nesses últimos dias foi um certo comercial de café em latinha. Cafés em latinha - e em qualquer recipiente, diga-se de passagem - são consumidos com fervor aqui no Japão. O que seria deles sem a famosa rede americana de coffee shops "Starbucks"? Até eu, que no Brasil nem tomo café, rendi-me ao Café Moccha gelado acompanhado de blueberry scones, observando os transeuntes pelas enormes janelas de vidro ao som de uma bossa nova...
Mas, enfim, o comercial. Todo em preto em branco, para caracterizar o café que "levou 100 anos para ficar pronto", e também uma referência ao nome do produto: Black - 100 anos. Ao fundo, uma música cativante embalada por violinos; na tela, uma série de cenas outdoor (incluindo um navio e plantações de café), cada uma com uma legenda do tipo "100 anos olhando as estrelas" ou "100 anos de sonhos" etc., encerrando com a latinha de café em cima de uma legenda que diz: 100% de grãos produzidos em fazendas nikkeis do Brasil.
Uma ótima oportunidade comercial foi o que a Asahi (fabricante) encontrou. Não se pode negar que o comercial foi muito bem feito (diferentemente da média japonesa)
, tendo um apelo quase emocional e despertando a curiosidade dos amantes de café, assim como dos ignorantes sobre a imigração japonesa ao Brasil.
Infelizmente eu estou tecnicamente impossibilitada de colocar fotos neste blog, mas para os que queiram ver a cara da latinha e um clip em flash, acessem o site (em japonês) do fabricante (Asahi). No site eles contam um pouco da história dos imigrantes em fazendas de café, e dizem também de onde vêm os grãos usados no produto: da região do cerrado mineiro.
Ah, eu ainda não experimentei, mas vou experimentar esse tal café assim que encontrá-lo. Olha só como funcionou esse comercial... lá se vão uns 130 ienes do meu bolso.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2006

Ano Novo

Feliz ano novo!
O Oscar foi embora hoje. Agora a casa esta vazia, fria, triste... que drama.
O Natal e o ano novo foram aqui em casa mesmo. Não ia fazer muita diferença sair para comemorar, já que os japoneses não comemoram nenhuma dessas datas da maneira que nós comemoramos.
A história da neve foi o seguinte: no último dia de aula, 22 de dezembro, nevou como eu nunca havia visto aqui em Kobe. Já havia visto em Sendai, que é no norte, mas não aqui, onde quase não neva. Obviamente, ninguém esperava tanta neve, ou todo mundo subestimou a previsão de neve, porque naquele dia os ônibus pararam de funcionar antes das 9 da manhã, o que significou pegar um trem e andar 40 minutos até a faculdade, em vez de pegar 2 ônibus com eu fazia todos os dias. Andar no frio não seria tanto problema se eu tivesse levado um guarda-chuva para me proteger da neve, mas era muita neve caindo no rosto e acumulando em cima da cabeça para continuar, então eu tive que ir numa loja de conveniência e comprar um guarda-chuva, o que eu demorei a fazer por ser mão-de-vaca e ficar procurando um lugar mais barato. Não teve jeito, desembolsei os 12 reais e usei o guarda-chuva por 20 minutos naquele dia.
Pensei que os japoneses pensassem em tudo, fossem prevenidos e tal, mas nesse dia eu vi que não. Os ônibus não tinham correntes para pôr nos pneus em caso de neve, por isso tiveram que parar, já que era perigoso dirigir nas ruas cobertas de neve. O engraçado é que à noite, quando eu voltava para casa depois de ter ido à faculdade mas não ter tido nenhuma aula por causa sa neve, tinha um ônibus com correntes preparado para subir a montanha onde fica meu prédio. Já nem se via neve nas ruas... Sei lá, né, vai ver que era para não dizer que não fizeram nada.

Essas 2 semanas de férias foram inúteis. Ótimas, mas inúteis, no sentido de que eu não fiz absolutamente nada dos trabalhos que tenho que entregar essa quarta e quinta. Desculpa, mãe, mas não deu. A única coisa que mudou foi a casa, que já está mobiliada e equipada. Chegou a lavadora, a TV, comprei a cadeira do computador e minha amiga me deu um kotatsu (uma mesa de sala com aquecedor acoplado). Mas ainda não tirei fotos e isso ainda vai demorar pelo menos uma semana. Desculpem.

É isso aí. Espero que vocês tenham feito suas resoluções de ano novo, e que as cumpram! Eu não fiz nenhuma, ainda. Mas vou pensar e depois eu conto.