sábado, 8 de janeiro de 2011

Busão de Sampa - Eu, Passageira Indignada

Quem planejou não deve andar de ônibus...

Eu já comentei aqui no blog que um tempo atrás minha mãe deslocou o ombro andando de ônibus, né? Bom, para refrescar a memória: certo dia, ela estava indo pro trabalho de ônibus, segurando numa daquelas alças que ficam penduradas na barra, e o ônibus freou. Nem foi uma freada tão brusca, segundo ela, mas se você não estiver segurando firme, qualquer freada te joga pro lado. E foi o que aconteceu - ela se desequilibrou, tentou se segurar na alça, mas essas alças não são fixas, deslizam, e ela acabou torcendo o braço e deslocando o ombro.

Esse é só um exemplo de como os ônibus de São Paulo são, acima de tudo, mal planejados. O piso é tão alto que você tem que levantar a perna lá em cima para subir (cuidado com a saia, mulheres!) e pular para descer. Os que têm "piso baixo" têm degraus dentro do ônibus, então você tem que subir e descer de qualquer jeito para chegar ao fundo. Além disso, onde o piso é baixo a barra é tão alta que ninguém alcança. E ninguém gosta de ficar onde não dá para se segurar, né? Aí fica aquele vazio no meio do ônibus enquanto um monte de gente se espreme na parte da frente e ninguém consegue passar a catraca...

Ventilação = abrir as janelas. Esse sistema funciona muito bem. Quando não está chovendo. Imagine um ônibus lotado num dia de verão. Já é super quente, né? Daí começa aquela chuva grossa e todo mundo fecha as janelas, que logo começam a embaçar. Chega a ser desumano ter que ficar nessas condições, ainda mais de pé, sem ter em que se segurar, por sabe-se lá quanto tempo até o destino final. Isso se no caminho não tiver um alagamento e o ônibus tiver que desviar a rota bem antes do seu ponto!


Corredor que não corre

Esse corredor de ônibus pode ter sido uma boa ideia com boas intenções, mas de boas intenções o inferno tá cheio. E os paulistanos também estão cheios dessas obras cabeludas que mudam a cidade e nunca resolvem esse mal que é o trânsito. O corredor foi feito para dar passagem aos ônibus em detrimento dos carros e agilizar o transporte público. No entanto, o que eu vejo todo santo dia ali no Eldorado e na Faria Lima em horários de pico é uma fila de ônibus parados enquanto os carros trafegam muito mais livremente nas outras faixas.

No ponto da Faria Lima a causa é óbvia: o semáforo. O ônibus para no ponto, os passageiros descem, sobem e, quando o ônibus está pronto para partir, adivinhem? O semáforo está vermelho! Consequentemente, o ônibus não pode partir e os ônibus de trás não podem pegar os passageiros que esperam no ponto, tendo que esperar o semáforo abrir. Aí enquanto o semáforo está verde, outro ônibus está parado no ponto e quando ele vai partir, fecha de novo e vira uma porcaria só. Quanta perda de tempo!

Já no ponto do shopping Eldorado, a culpa é dos próprios passageiros. Sim, é uma tremenda falta de conscientização e bom senso. Um único ônibus fica parado 5 minutos no ponto esperando os passageiros entrarem para poder fechar a porta. Os que estão dentro do ônibus não abrem espaço para mais gente entrar; os que obstruem a porta ficam esperando a boa vontade dos de dentro; os que estão fora não arrredam pé, querendo pegar aquele ônibus de qualquer jeito. O que eles não pensam (ou não querem saber) é que, nesses 5 minutos, outro ônibus menos lotado já teria chegado. Esses 5 minutos de atraso criado por algumas pessoas são para todos - os que já estavam no ônibus, os que querem subir, e os passageiros dos ônibus de trás, que estão na fila do corredor que não anda. É cada um querendo garantir o seu, sem pensar que estão atrasando todo mundo, inclusive a si próprios.

Alguns centavos
para a educação

Dia 5 de janeiro a tarifa do ônibus passou de R$2,70 para R$3,00, um reajuste maior que a inflação e um preço alto demais para um sistema tão precário. Se nós somos obrigados a pagar, então que justifiquem esse aumento investindo em melhorias nos veículos, nas vias, remuneração e treinamento de motoristas e cobradores e, principalmente, na conscientização dos passageiros, que é praticamente inexistente.

Dentro dos ônibus pode-se ver uns cartazes pedindo aos passageiros que não consumam alimentos e bebidas, pois isso pode atrair insetos. Eles deveriam mencionar também que comer dentro do ônibus em movimento pode causar enjôos... como uma menina que vomitou no meu sapato... argh. Ela não devia ter mais de 3 anos de idade; estava sentada no colo da mãe, devorando um pacotinho de Fandangos às 10h da manhã. Pedagogia e nutrição à parte, enfim, a pobrezinha vomitou, duas vezes, perto da catraca. E aí uns desavisados que entravam no ônibus iam pisando naquilo sem perceber e espalhando a sujeira, e o cheiro... Gente, um nojo. E não tinha como limpar até chegar ao ponto final, porque no ônibus não tinha nem água, nem jornal, nada. Dá para viajar nessas condições? E agora nós temos que pagar R$3,00 por isso!

Por que o metrô, que custa R$2,65, parece coisa de outro mundo comparado aos ônibus de São Paulo? Por que as pessoas que andam de metrô são mais "civilizadas" que os passageiros de ônibus? Eu acho que a conscientização dos usuários responde por grande parte disso. Claro que o metrô, sendo uma rede limitada sob administração centralizada, é muito mais fácil de se controlar e fiscalizar. Mas os ônibus municipais também já estão muito mais unificados e organizados que alguns anos atrás, quando havia ônibus clandestinos e greves constantes. Com a formação de motoristas e cobradores que ajam como fiscais, é possível sim educar os passageiros de forma a conservar melhor os veículos e agilizar as paradas nos pontos. Mas é preciso destinar alguns daqueles R$0,30 para isso.